por *Drizio Mathias Netto
Romanos 12: 1- 8
A
adoração verdadeira tem sido uma das coisas raras de se ver nos dias de hoje.
Muitos têm empreendido escrever sobre o assunto e creio que há muita coisa boa
escrita sobre a adoração, mas o problema é que na diversidade de religiões há,
em muitos casos, uma total agressão aos princípios da palavra de Deus.
A igreja de Jesus Cristo nunca teve tão dividida no tocante a este
assunto como está nos dias de hoje. É necessário olharmos para a Palavra de
Deus e buscarmos nela as verdades sobre o modo de adorarmos a Deus. Penso que
posso escrever algo sobre a Carta de Paulo aos Romanos e que envolva o assunto,
porque o apóstolo dos gentios não conhecia a igreja em Roma e anelava em seu
coração alcançar credibilidade e sustento para o seu ministério na Espanha.
Esta igreja não foi organizada por nenhum apóstolo, pois segundos
os estudiosos, a Igreja em Roma surgiu no dia Pentecostes. Paulo esperava
passar por Roma e mandou com antecedência este pacote doutrinário que é a carta
aos Romanos.
A carta tem como tema principal à fé em Jesus Cristo. Paulo começa
a abordar o assunto mostrando que todos os homens estão debaixo do pecado,
tanto gentios como judeus. A igreja em Roma era composta de um povo misto de
judeus e gentios. Assim, pelo fato de não conhecer a igreja, Paulo escreve as
verdades sobre o pecado, a fé e seus resultados e sobre a história da situação
de Israel, não deixando para traz a importância da adoração genuína.
O povo romano era dado à idolatria e à luxúria. A igreja era
assediada pelas falsas doutrinas que se misturavam com o cristianismo como era
o caso do judaísmo e talvez os ensinamentos gnósticos que começavam a tomar
proporções relevantes.
Com tudo isso surgia a necessidade de Paulo abordar sobre a
importância da adoração e isso ele faz de forma clara no capitulo 12 da Carta
aos Romanos.
Não vou ser profundo sobre o assunto, mas pretendo abordá-lo de
forma sucinta para que possa ser entendido e prático para todos os leitores,
pois a palavra de Deus deve ser acessível e contextualizada para que possamos
tirar o nosso proveito. Penso que podemos seguir os padrões paulinos para
adorarmos a Deus com maturidade, pois encontrei princípios importantes para que
possamos edificar as nossas vidas e também nossas igrejas, e isso numa adoração
bíblica e contextualizada.
A adoração verdadeira tem certas características que devem ser
observadas com atenção e quero abordá-las em quatro pontos importantes. Estas
teses serão relevantes para que possamos entender o que Paulo pensava sobre a
forma de adorarmos a Deus em nossos cultos e também refletirmos em nossa
adoração à luz do conhecimento bíblico sobre o assunto. Vejamos o que podemos
encontrar no texto de Paulo aos romanos, capitulo 12:1-8 sobre os requisitos
para a adoração verdadeira e madura:
1 - A Adoração com Maturidade é uma apresentação diante de Deus.
Paulo começa o versículo um dizendo que a adoração consiste numa
entrega diante de Deus. Ao dizer assim, ele se referia à oferenda. Em todo o
Antigo Testamento nós podemos constatar o sistema judaico sacrifical. Outros
povos pagãos também sacrificavam aos seus deuses, o que prova que a questão
sacrifical não se prendia aos cultos dos hebreus. Deus mesmo exigia que se
sacrificassem animais. Mas a ideia sacrificial estava ligada também às ofertas.
A adoração verdadeira e madura é uma oferenda para Deus e isso como
um sacrifício vivo. Ao contrário do antigo testamento, onde eram apresentados
sacrifícios pelos pecados, Paulo aborda que devemos tomar uma atitude de
gratidão pela compaixão que Deus teve ao nos perdoar no sacrifício de Jesus
Cristo. Não se pode dizer que adoramos a Deus se não nos apresentarmos diante
dele em gratidão por tudo que ele representa para nós.
A apresentação solene que é feita diante de Deus é de essência
santa. A santidade é um dos atributos de Deus. A palavra grega “agian” tem sua
designação dando a idéia de separado. A adoração com maturidade deve envolver a
separação do pecado e a separação para Deus como oferenda imaculada no
sacerdócio pessoal.
A forma de adoração apresentada por Paulo não é algo extremo ou
estático, mas racional. A palavra que expressa razão tem uma melhor
interpretação se pudermos pensar na coerência daquilo que estamos fazendo para
Deus, ou seja, precisamos fazer a soma certa e Deus não pode ser somado ao
ascetismo ou ao legalismo, mas à santidade e à justiça de que é exigida no ato
da adoração. Então ser um verdadeiro adorador consiste em apresentar-se diante
de Deus ao jeito de Deus e com o caráter de Deus.
Paulo diz que Deus é adorado em culto ou devoção pessoal e isso
através da coerência de que aquilo que estamos apresentando ao Senhor seja
realmente verdadeiro. Assim a adoração passa a atender as exigências de Deus,
pois o ato de adorar é uma coisa e Deus receber ou confirmar a adoração é
outra. O culto deve ser bíblico e ao jeito de Deus, pois ele é o alvo de toda
adoração.
A igreja tem se tornado para muita gente um clube de encontro onde
podemos ver as pessoas e sermos vistos por elas. Em muitos casos a igreja tem
sido um lugar onde é proporcionada uma forma de culto que faz com que as
pessoas extravasem as neuroses adquiridas no decorrer da vida. Eu penso que
tudo isso pode contribuir para melhorar a pessoa, mas não podemos fazer do
culto um consultório de psicologia onde a cada domingo nós tenhamos as sessões
terapêuticas para cada pessoa.
Poucos são aqueles que realmente querem envolvimento com a obra de
Deus com o objetivo de fazê-la crescer. Muita gente deseja receber as bênçãos
de Deus, mas poucas querem o Deus das bênçãos. Não podemos dizer que culto seja
um ato que nos faça receber bênçãos, ainda que isto esteja intrínseco, mas o
culto é uma entrega pessoal diante de Deus como um sacrifício vivo, santo e
racional.
a adoração consiste numa entrega diante de Deus |
Dentro desta ideia podemos perceber uma outra verdade que
caracteriza uma adoração verdadeira:
2 - A Adoração com Maturidade é tomar uma atitude em relação à
cultura secular.
Outra face da adoração é no ato de tomarmos uma posição em relação
ao sistema em que estamos vivendo.
Paulo disse para aqueles irmãos em Roma que eles não deviam se
conformar com o mundo. Há aqui algo que precisamos estar atentos. O mundo foi
criado por Deus e é alvo do amor de Deus, mas a palavra usada pelo apostolo tem
a ideia de século ou época. Outro fato que não podemos deixar de relacionar é
que a palavra “não conformar”, usada por Paulo nos dá a ideia de pose. É como
alguém que vai tirar fotos e faz poses. O que Paulo nos diz aqui é que não
podemos tomar a forma ou a pose do século.
Hoje nos estamos vivendo em uma época onde nossa cultura é voltada
para os aspectos da juventude e dos hábitos de consumo da juventude. Nós não
vemos na televisão propaganda de remédios para pessoas idosas. Não vemos a
mídia colocar um idoso para fazer a propaganda de um sorvete ou algo do gênero.
Tudo ou a maior parte do que presenciamos são mulheres sensuais e músicas
sensuais, misturadas às drogas alcoólicas e pessoas de sucesso pregando a
liberdade em nome do amor. Mas onde está Deus? Cadê a mídia de Deus? Porque não
há novelas que falem como as pessoas podem encontrar a Deus?
Não sou contra a mídia e penso que tudo pode ser usado para o bem,
mas não é assim que o nosso mundo usa as coisas. Estamos vivendo em dias onde
precisamos questionar aquilo que temos aprendido e perpassarmos à luz da
palavra de Deus para que não tomemos a forma do mundo em uma cultura agressiva
que gera neuróticos e pessoas sem o temor de Deus.
Jesus disse que somos sal e luz e isto são coisas distintas e
legitimas. Nosso cristianismo deve influenciar e não ser influenciado pelo
mundo. Acredito que se quisermos viver uma vida autentica com Deus então
precisamos tomar uma atitude em relação a nossa cultura ou época.Quando tomamos
esta atitude, nossa adoração passa a ter uma marca distinta. Nossos valores
serão diferentes, pois Cristo estará presente em nossa devoção. Nossa adoração
será a resposta de nossa cultura bíblica. Esta é outra parte que quero abordar.
3 - A Adoração com Maturidade é uma renovação que provém do
conhecimento da palavra.
Paulo começa esta parte mostrando que a adoração genuína é fruto
do conhecimento da Bíblia. Ele diz que devemos nos transformar pela renovação
do nosso entendimento. Ao dizer isso, Paulo afirma que uma adoração verdadeira
deve ser bíblica, pois com a sobreposição de informações, ou seja, colocando a
informação do evangelho em lugar dos falsos conceitos religiosos, teremos uma
metamorfose. É como uma lagarta que passa do estado larvar e repugnante para um
estado adulto, onde é transformada em uma bela borboleta.
O adorador precisa conhecer a Bíblia, precisa pertencer a ela e
ser possuído por ela. Jesus afirma que o conhecimento da verdade pode libertar
o homem. Há muita gente fazendo meninices em nome de Jesus sem mesmo
conhecê-lo. Há tantos que buscam experiência e revelação da verdade ao passo
que deveriam pedir a Deus iluminação da verdade para uma espiritualidade
salutar e libertadora. A adoração madura transforma o adorador e renova a mente
por causa da palavra da verdade.
Nosso padrão de adoração é a Bíblia, e interpretada de maneira
legitima e inteligente, para que não coloquemos palavras na boca de Deus e que
nunca Ele quis dize-las. Nossos cultos precisam ser bíblicos porque se assim
não for, serão como lata vazia fazendo só barulho. Penso que muitos passam
pouco tempo com a palavra de Deus. Há gente que cresce nas igrejas por aquilo
que ouviram falar e não por aquilo que aprenderam com Deus e com Sua Palavra. Talvez
esta seja a razão que faz com que haja tanta imaturidade externada no meio do
povo de Deus e que tem escandalizado tanta gente, distorcendo e
pré-conceituando erroneamente o culto evangélico.
A adoração muda o caráter do adorador, levando-o a apresentar-se
diante de Deus de forma santa e, em consequência disso, experimentando a
vontade de Deus.
4 - A Adoração com Maturidade possui identidade.
Paulo passa a dizer que não podemos pensar de nós mesmos além do
que convém, mas segundo a fé repartida por Cristo a cada um. Depois estabelece
o ensino dos dons espirituais. Ele estabelece uma semelhança da igreja e o
corpo humano. Paulo mostra a diversidade de dons na unidade de Cristo. Podemos
perceber que há o ensino de que devemos conhecer o nosso dom ou nossos dons
para a apresentação de nosso sacrifício diante de Deus.
O cristão não pode ser aquilo que não é, mas não deve deixar de
ser aquilo que é. Existe aqui um principio importante que é a identidade
espiritual. Não somos ninguém sem nossa identidade e assim também em relação à
igreja. Não podemos servir a Deus sem nossa identidade espiritual, sem o nosso
dom espiritual. No Antigo Testamento os hebreus sacrificavam a Deus, mas na
igreja usamos a nossa vida no dom espiritual, dado para edificação do corpo. A
adoração está voltada para Deus e para o próximo. É aí que cumprimos a lei do
amor que rege toda obediência. Nosso culto deve ser edificador e alimentador.
Para que isso se torne realidade, precisamos aceitar a diversidade
e também a unidade, ou seja, há muitos jogadores e cada um em uma posição, mas
os gols são feitos em um só lugar. Os pastores devem entender esta realidade e
investirem em uma forma de cultuar que proporcione oportunidade para todos
servirem a Deus nos dons espirituais.
Concluindo, se todos entendêssemos estas verdades, poderíamos
experimentar o céu aqui na terra. A igreja é perfeita em si mesma, mas talvez o
que a tem reduzido ao fracasso sejam os adoradores imaturos, que cultuam sem
estarem diante de Deus como um sacrifício vivo. Adoradores que tomam a pose do
século porque não conhecem a Deus e nem a sua palavra. Adoradores que não têm
identidade e que servem a Deus no talento da carne. Que carregam a soberba e a
fama respaldada na gloria do homem e não de Deus. Adoradores que não cultuam,
mas fazem espetáculos em nome da fé.
Precisamos adorar com maturidade.
"A
adoração é a submissão de toda nossa natureza a Deus. É a vivificação da
consciência mediante Sua santidade, o nutrir da mente com Sua verdade, a
purificação da imaginação por Sua beleza, o abrir do coração ao Seu amor e a
entrega da vontade ao Seu propósito." - William Temple
Que Deus nos abençoe e nos ensine a adorá-lo com maturidade.
Amém!
* Pastor Batista em São Marcos - Espírito Santo
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